sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Forma e conteúdo

De que servem as melhores ideias,  propostas e respostas, se não se consegue expressa-lás com clareza, harmonizando a fala e os gestos com o conteúdo do discurso? Se o público não entende, não acredita. A máxima chacriniana “quem não comunica se trumbica” continua em pleno vigor nesta  campanha eleitoral comandada pelo nosso comunicador-chefe como um Chacrinha dos palanques.

Se um grupo de estrangeiros, sem saber nada sobre o Brasil e nem entender  português, fosse contratado para assistir ao debate presidencial na Band, talvez pudesse dar novas contribuições aos marqueteiros.

Claro que eles não poderiam ter qualquer opinião sobre o conteúdo, mas serviriam para dar suas impressões, com a isenção do desconhecimento, sobre a forma que os candidatos expressaram seus estilos e  personalidades. As expressões faciais e corporais,  a postura, os gestos, o tom da voz, as reações a perguntas podem dizer muito sobre a percepção da pessoa física do candidato pelos eleitores.

A visão distanciada dos estrangeiros poderia dar um enfoque diferente nas pesquisas qualitativas que os marqueteiros adoram. Eles poderiam oferecer novos subsídios sobre a aparência dos candidatos aos olhos de absolutos estranhos. Afinal, em uma eleição, parecer é tão ou mais importante do que ser.

No debate, os estrangeiros perceberiam que aquele senhor careca e magrelo de terno escuro, com um ar meio cansado, se expressava de forma meio professoral, parecia um político experiente, acostumado à exposição pública, que mantinha uma gesticulação discreta e uma postura adequada ao ritmo de suas falas, mostrando aparente segurança e alguma monotonia.

Já a senhora rechonchuda e com um grande topete, maquiada com esmero, parecia furiosa e tomada por um espírito guerreiro, de dedo em riste, com olhos rútilos e lábios trêmulos. Na maior parte do tempo se mostrou assertiva e ríspida no tom de voz, numa postura ofensiva de combatente. Falava como um general, e em vários momentos, parecia estar com muita raiva. Os estrangeiros teriam muito medo dela, mesmo sem entender o que dizia. Só pela forma de dizer.

Nelson Motta

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